Várias pessoas que leram o
post publicado na blogagem coletiva de aniversário do blog da Elaine, manifestaram que gostariam de saber o porque de eu ter sido careca na minha infância.
É quase automático que na mente venha de primeira o pensamento: quimioterapia. Mas não foi isso, graças a Deus!
Para chegar lá, acho que preciso expor o contexto em que eu vivia, e o caminho percorrido até descobrir a verdadeira causa. Então, vamos lá.
Quando eu completei 5 anos de idade, meus pais já não se suportavam mais. Brigas intermináveis, lágrimas de minha mãe no escuro tentando se esconder de mim e da minha irmã mais velha, meu pai quase não aparecia mais em casa porque estava com sua amante (minha madrasta), e eu sentindo um peso gigantesco dentro de mim: amava meu pai, idolatrava-o... Mas também daria minha vida por minha mãe.
A esta altura, eu já era banguela por uma coisa a toa: com 2 anos aprendendo a andar, meu avô paterno brincando comigo em seu quarto, me fez andar até ele e eu caí de boca na cabeceira de uma cama de madeira maciça. A arcada traumatizou, perdi os dentinhos de leite, e só voltei a ter dentes quando os permanentes nasceram aos 7 anos de idade.
Bom, continuando... Quando a situação dos meus pais ficou mais complicada, comecei a perder cabelos. Perdia tufos de cabelo, e começou a correria aos consultórios. Eu ia aos médicos praticamente todos os dias, quase toda a família se revezou para me levar nas consultas, e eu sempre daquele meu jeitinho: não chorava, não berrava, não perguntava o por que, simplesmente ia e brincava no meu mundinho.
Passei por vários exames, o que mais pediam era exame de sangue, e minha avó materna sempre me lembra de certa vez em que eu disse para ela: "vó, eu vou acabar ficando sem sangue desse jeito!". E os médicos não descobriam a causa.
Me consultei com médicos em MG que disseram que eu era alérgica a gatos, e por isso eu estava careca, e lá se foi minha gata chamada Meggie que eu amava, e por muito tempo fui privada dos meus bichanos. Minha mãe me levou também em MG, a um pai de santo que me benzeu e disse que era olho gordo. Apesar de eu ser da Umbanda hoje, sei que ele estava errado.
Continuamos na luta com os médicos, e uma dermatologista disse que se tratava de
"alopécia", uma doença dermatológica que causa a perda de todos os pêlos do corpo. O tratamento era um tipo de ácido que se aplicava diretamente nas regiões afetadas, e queimava demais! Mas eu não chorava, só sofria calada. O remédio fez o cabelo crescer sim, para depois cair de novo.
Então, já com 6 anos de idade, meus pais finalmente se separaram, e surgiu a idéia de que poderia ser trauma psicológico pelo que acontecia em casa. Fui eu passar por várias sessões com a psicóloga, que era muito legal comigo, e me lembro que detestei no dia em que chegou a hora de sentar meus pais na mesma sala que eu, para me ajudarem. Não ajudaram. Eles chegaram ao ponto da mágoa, em que se detesta um ao outro, e não conseguiam prestar atenção em mim, só na presença deles próprios. Enfim, não resolveu.
Minha mãe se mudou para a casa do meu padrasto e nos levou com ela (minha irmã mais velha e eu). Neste dia, eu chorei. Chorei porque ficaria longe do meu pai, porque ficaria longe dos meus avós, porque eu nem conhecia direito aquele homem. Mas eu passaria a conhecer.
Meu padrasto incluiu em seu convênio particular eu e minha irmã, e foi nesta época que alguém sugeriu que minha mãe me levasse ao endocrinologista. Na época pensava-se "qual a relação de uma coisa e outra?" mas seja lá quem foi que deu esta sugestão, estava certo.
O médico muito experiente, detectou no exame físico que eu era portadora de deficiência da glândula tireóide, mas os exames de sangue não apontavam nada. Persistimos em outros tipos de exame, mais caros e detalhados, e houve a confirmação:
hipotireoidismo.
O hipotireoidismo é um dos tipos de disfunção da glândula tireóide que existe, e é um dos mais graves. Neste caso, é como se a glândula não existisse no corpo, ela não funciona. E por isso é necessário tomar medicação por toda a vida, que fará aquilo que a glândula deveria fazer.
Quando o hipotireodismo atinge o auge de sua deficiência, agride o corpo de diversas formas, e uma delas é a queda de cabelo e pêlos do corpo. Existem outras como gerar cistos e até nódulos no pescoço (que podem ocasionar câncer), olhos saltados, rosto e lábios inchados, obesidade (mesmo quando é tratada), etc.
Hoje é possível identificar se as crianças possuem deficiência na glândula tireóide através do
exame do pézinho, mas há 26 anos quando eu nasci, este exame ainda não existia e os médicos pouco conheciam as consequencias da disfunção de tireóide não tratada.
Depois de um ano de tratamento via oral, e aplicações de medicamento no couro cabeludo (injeção na cabeça não dói muito, só dá aflição de sentir o medicamento correr nas veias), meu cabelo voltou a crescer e as sombrancelhas também (graças a Deus não precisei de aplicação nessa região).
Aos 7 anos e meio, eu tirei o chapéu e boné pela primeira vez desde os 5, e meus dentes nasceram nesta época. Eu me lembro de estar caminhando na rua ao lado de minha mãe, e ela dizendo: "pode tirar o boné filha, não tem mais nada para esconder". E eu com medo de que não fosse verdade, apalpei toda minha cabeça para ter certeza de que não havia mais nenhum cantinho sem cabelos.
Daí em diante, eu precisei re-aprender a pentear os cabelos, e minha mãe vivia me dando bronca por causa das buchas que tinha que desembaraçar!
Meu avô paterno às vezes ainda pergunta se meus cabelos caíram novamente... E com prazer eu respondo: "Não vovô.
Meus cabelos nunca mais caíram, estão firmes e fortes, e ganhando elogios!".